Por Sueli CastilhoHoje paro para escrever. Dúvidas incontáveis: qual o tema que abordarei? Verdadeiramente não sei. Acompanho noticiários e vejo diariamente: corrupção, políticos desonestos, hipocrisia, fanatismos, roubos, assaltos, assassinatos, estupros, pedofilia, conflitos sociais, desigualdade social, juros altos, queda na bolsa, alta do dólar, miséria, o homem agredindo a natureza e esta respondendo ao homem, catástrofes e tragédias, desabrigados, famintos, drogas, sexualidade banalizada, relacionamentos fragilizados, famílias desajustadas, homens e mulheres perdidos em seus próprios papeis.
Tudo isso acontecendo e os reality shows em alta: quem irá vencer o BBB10? E A Fazenda? Todos os portais que acesso dão uma enorme ênfase a esses programas. Motivo: alto índice de ibope. Essa parece ser a maior preocupação da população brasileira.
Famílias vendo e assistindo a este grandioso triste espetáculo de vouyerismo, onde o controle não mais existe. A cada novo programa vemos o quanto sub-humano estamos nos tornando. A falta de valores, a falta de integridade, a falta de moral, a falta de dignidade, a falta de caráter. O homem que tanto quer ser visto e tido como civilizado aprecia e valoriza esse trágico espetáculo. Afinal quem somos nós, habitantes desse semi- destruído planeta no século XXI? O que nos tornamos?
A ciência trazendo novas e novas descobertas: a utopia da vida eterna é preconizada pelos meios científicos. Daqui a quatro décadas espera-se que o número de pessoas com cem anos aumente em 15%. Mas o que esperar desse homem?
Sem falso moralismo, sem a idéia retrograda do passado, pensando na evolução da espécie, na transformação do homem e da sociedade, paro para questionar? O que será necessário para satisfazer nossa população e quantos ainda se submeterão a esse rudimentar espetáculo em nome de fama e de um milhão e meio de “vil metal”? Relaciono o acompanhar a vida de outrem via “câmera indiscreta” como a situação de dependência de drogas. No inicio a população fica extasiada com situações bizarras, como o drogado, mas logo depois não é mais suficiente essa quantidade. Com isso o que antes era absurdo passa a se tornar normal e não mais satisfaz. O dependente químico aumenta a dose de consumo das drogas, a população expectadora dos reality quer ver mais... e mais...
Como uma sociedade se mantém? Com liberdade de expressão, com autonomia, mas embasada em um código de ética. Qual é a ética que norteia esse tipo de programa? Qual é a ética de quem se submete a assisti-los todas as noites e/ou a acompanhá-los vinte e quatro horas no dia. Para que exista ética é necessário ter valores, e ser integro para se submeter a eles não como um dever, mas naturalmente.
Evoluímos ou retrocedemos? Talvez estejamos vivendo um período mitológico, baseado em Baco (deus do vinho), mas não mais aquele descrito pelos gregos e sim um neo-bacanal, ou quem sabe um neo-Sodoma e Gomorra. Ou será essa a essência da natureza humana?
Sueli Castillo é Psicóloga
suelicastillo@gp1.com.br
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